A recente implementação da tarifa zero no transporte público do Distrito Federal, aos domingos e feriados, tem gerado uma série de reações entre os usuários, com pedidos por mais ônibus para atender a demanda crescente. Desde que a medida entrou em vigor em 1º de março, o aumento no número de acessos foi expressivo, registrando 442 mil passageiros no último domingo, um crescimento de 60% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Apesar do aumento no fluxo de passageiros, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) argumenta que a frota disponível é suficiente para atender a esse acréscimo.
No entanto, muitos usuários relatam dificuldades, como a superlotação e a longa espera pelos ônibus, especialmente em áreas mais distantes. Gabriel Côrrea, um dos usuários que depende do transporte público, destaca que a espera por ônibus nos domingos pode ser de até uma hora, o que acaba prejudicando a eficiência do sistema. A iniciativa da tarifa zero, embora muito apreciada pela população, revela as limitações de um sistema de transporte público que já enfrentava desafios antes da gratuidade. A falta de recursos para aumentar a frota de ônibus aos domingos tem sido um ponto de tensão entre os cidadãos e as autoridades.
A situação é ainda mais preocupante em horários de pico, quando a demanda por transporte público é ainda maior. Ana Lívia Soares, uma das usuárias que precisou esperar mais de duas horas para pegar um ônibus entre Santa Maria e Taguatinga, exemplifica as dificuldades que muitos enfrentam. O aumento da frota, principalmente nos horários mais críticos, é uma das principais solicitações dos passageiros. A gestão do transporte público precisa considerar essas demandas para garantir que a tarifa zero seja realmente eficaz e beneficie a população de maneira plena.
Por outro lado, o secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves, acredita que a frota de 1.100 ônibus operando aos domingos já é suficiente para atender à demanda adicional. Segundo ele, o programa tem sido um sucesso, com as operadoras conseguindo atender ao número de acessos sem a necessidade de ampliar a quantidade de veículos em circulação. A justificativa para essa postura é que os novos eixos de deslocamento, impulsionados pela gratuidade em pontos turísticos e eventos culturais, têm sido atendidos sem a necessidade de ajustes significativos.
Especialistas apontam que a implementação da tarifa zero é uma ação positiva, mas também reconhecem que o sistema de transporte precisa se adaptar à nova realidade de uma demanda crescente. O professor Willy Gonzales, da Universidade de Brasília (UnB), destaca que a adaptação ao uso gratuito dos transportes será gradual, à medida que mais pessoas conhecem a iniciativa e se acostumam com o sistema. Contudo, ele enfatiza a importância de um planejamento eficaz para evitar que o aumento no número de passageiros sobrecarregue o sistema de forma irreversível.
Além disso, a falta de um planejamento adequado pode gerar um ciclo vicioso de insatisfação entre os usuários, o que pode comprometer a aceitação do programa a longo prazo. A questão da superlotação, por exemplo, precisa ser enfrentada com políticas públicas que garantam que a gratuidade não leve a um colapso no sistema de transporte. A população exige que as autoridades não apenas promovam a gratuidade, mas também invistam em melhorias estruturais, como o aumento da frota e a revisão de horários e itinerários.
Para muitos, o transporte público gratuito representa uma oportunidade única de se deslocar pela cidade sem custos adicionais. No entanto, para que a medida seja efetiva, é necessário um equilíbrio entre a gratuidade e a qualidade do serviço oferecido. É fundamental que o governo esteja atento às necessidades da população e que as empresas de transporte adaptem suas operações para lidar com o aumento do número de passageiros de maneira eficiente.
Com o aumento do número de acessos ao transporte público, é possível que novas estratégias de gestão sejam necessárias para garantir que o programa de tarifa zero continue sendo um sucesso. A implementação de mais ônibus em horários de pico, a ampliação das linhas e a otimização dos itinerários são algumas das alternativas que podem ser consideradas para melhorar a experiência dos usuários e garantir a sustentabilidade do sistema de transporte no longo prazo. A tarifa zero é uma conquista significativa, mas sua eficácia dependerá de ajustes contínuos e de uma escuta ativa das necessidades da população.
Autor: Svetlana Dmitrieva